sábado, 2 de abril de 2011

Coisas da minha vida II

Aos seis ou sete anos comecei a praticar natação. Era uma menina e, no início, tratava-se de aprender, passar o tempo. Mas, com o decorrer dos anos, tornou-se uma obsessão para o meu pai. Nadar já não me divertia, passou a ser uma obrigação e um modo de vida. Treinava todos os dias da semana, excepto ao Domingo, além dos (intensos) treinos de preparação física. 
Apesar da minha contrariedade, era relativamente boa no que fazia; ganhei dezenas de medalhas e troféus. Contudo, lembro-me que a primeira coisa que fazia ao acordar, antes de ir para os treinos, era chorar e pensar para comigo "por favor Deus, hoje não. Não quero ir!". E isto estendeu-se por vários anos. Foram tempos difíceis, o excessivo horário de treinos começou a ter efeitos sobre mim, e já aos 12 anos as visitas a médicos e fisioterapeutas tornaram-se frequentes. A situação era cada vez mais insuportável, até que um dia decidi que tinha de tomar uma atitude. Eu já não era feliz, a mágoa que sentia por ser obrigada a fazer algo que não queria estendeu-se a outros campos do meu quotidiano.
Foi assim que decidi deixar de nadar, com 15 anos disse ao meu pai que para mim a natação tinha acabado. O que se seguiu foi ainda mais difícil que todos os anos anteriores, da parte dele ouvi: "Para mim, já não és minha filha. Não contes comigo para nada" e muitas outras coisas. A relação pai-filha deteriorou-se até que a pouco e pouco deixou de existir. A minha resposta foi rasgar grande parte das fotografias da natação e meter num saco todas as medalhas e troféus e fechá-los num armário.
Quatro anos depois, as coisas não melhoraram, mas sei que não tinha outra alternativa. Não conseguia mais manter aquela postura submissa perante ele. 
Hoje voltei a nadar, mas não sob as ordens de ninguém. Vou para a piscina e faço o que eu quiser. Não tenho ninguém a berrar-me instruções e a dar-me reprimendas. E é este sentimento de autonomia que me faz tanto bem. Ao nadar, liberto o stress das aulas, passa-me a neura, mas no fundo é porque o faço por vir da minha vontade.

1 comentário:

Guinhas disse...

Esta história , sinceramente, deixou me a pensar...realmente os pais muitas vezes fazem as metas que acham ideais para nós mas esquecem-se das nossas próprias vontades. Eu tenho uns pais fantásticos, não me queixo, mas desejo-te que as coisas estabeleçam quanto antes...acredito que isso tenha sido uma decisão dolorosa!