A este ponto convém esclarecer alguns aspectos: não, eu não sou rica, nem ando lá perto; não sei o que é fazer férias; não tenho carro, nem muito menos carta de condução; não vou a festivais de Verão; os meus pais não têm um Mercedes, mas sim um Fiat Uno de 1991, não tenho casa de férias, mas uma humilde habitação; lojas como Quebramar, Throtleman, Mango e outras do género, por muito lindas e maravilhosas que sejam, estão fora do meu alcance; produtos de marca branca fazem parte do meu quotidiano; dependo de uma bolsa de estudos (que foi reduzida) para continuar a estudar; em doze meses, volto à casa apenas duas vezes; desde que entrei na Faculdade que nunca mais pedi um cêntimo aos meus pais, porque sei que não mo podem dar.
Se calhar até tenho motivos mais que suficientes para sair à rua e protestar, mas não o faço. É certo que o país está a passar por uma fase de contornos difíceis, mas perante isto não tenho senão de levantar a cabeça e sacar das minhas garras e lutar, mas lutar por mim e pelo meu futuro e, sinceramente, não tenho sequer uma réstia de esperança nos protestos dos "enrascados".
Se não penso no amanhã? Sim, e temo-o, mas estou disposta, se for necessário, a ir para trás de uma caixa de supermercado, enquanto procuro dar continuidade à minha formação.
São contextos diferentes é certo, mas a verdadeira crise vive-a África, enquanto por cá, no nosso Portugal, há jovens "enrascados" que têm carros topo de gama, destinos de férias paradisíacos, que se mantêm a par de todos os concertos, que vão aos sítios da moda e que esbanjam o seu dinheiro em outras futilidades.
E não, não me estou a resignar com a minha situação, muito pelo contrário, tenho sonhos e planos, mas não me vou acomodar, sentar-me a um canto, enquanto me intitulo de enrascada e espero que a solução caia dos céus.
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